OAB-BA recebeu 189 denúncias de racismo e vai acompanhar caso de ator
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia (OAB-BA) está acompanhando o caso do ator do Bando de Teatro Olodum, Leno Sacramento, que foi baleado durante uma abordagem policial. Tudo aconteceu na tarde de quarta-feira (13), na Avenida Sete de Setembro, quando ele passava de bicicleta próximo ao Forte de São Pedro.
A presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial, Dandara Pinho, contou que um grupo de advogados esteve na delegacia onde foi registrada a queixa para colher informações sobre a ocorrência.
Ela vai solicitar uma reunião com o governo do estado para discutir o assunto e sugerir que os policiais passem por um curso de reciclagem. Em 2017, a comissão recebeu 189 denúncias de racismo na Bahia. Nesta quinta-feira (14), Leno Sacramento e o cenógrafo Garley Souza, que estava com ele no momento da abordagem, foram recebidos pelo secretário estadual de Segurança Pública, Maurício Barbosa.
Racismo institucional
Ela citou o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa da Bahia, que define o racismo institucional como ações ou omissões sistêmicas caracterizadas por normas, práticas, critérios e padrões formais e não formais de diagnóstico e atendimento, de natureza pública ou privada, que resulte em preconceito ou discriminação.
Para Pinho, essa discriminação é diária e não é camuflada. “Velada pra quem? Certamente, não para a vítima. O racismo institucional é percebido no tratamento diferenciado dado aos negros, seja na segurança pública, no tratamento com desdém em órgãos públicos, ou no atendimento mais demorado nos hospitais, por exemplo”, disse.
A presidente afirmou que a comissão repudia toda e qualquer ação que viole os Direitos Humanos, e orientou as vítimas desse tipo de crime a procurem a instituição. Os canais de denúncia são: (71) 9 8764-4606 ou o e-mail igualdaderacial@oab-ba.org.br. As queixas podem ser formalizadas também nas páginas do Facebook ou do Instagram da comissão.
Comunidade
Apesar de os policiais terem se desculpado pelo ocorrido, para o coordenador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD), Dudu Ribeiro, a violência sofrida por Leno não pode ser entendida como um acidente.
“É a reprodução do racismo nas forças de segurança. Existe um modus operandi no tratamento com o negro que é o mesmo que nos violenta nos hospitais, nas universidades e em outras instâncias. Aconteceu porque o sujeito é negro, porque nossos corpos são alvejados antes de haver a comprovação de crime ou de contravenção penal”, disse.
Ele contou que a agressão sofrida pelo ator fere todos os negros. Para o militante, além de trabalhar a subjetividade das pessoas é preciso que as políticas de segurança pública sejam repensadas. Ele contou que a Iniciativa é solidária ao ator e está disposta a apoiar qualquer ação de enfrentamento ao preconceito.
Repercussão
O ator e ex-integrante do Bando de Teatro Olodum Lázaro Ramos compartilhou nas redes sociais o manifesto divulgado pelo grupo sobre o caso, com a mensagem ‘Me deem licença para colocar um pouco aqui a voz do Bando De Teatro Olodum, meu grupo de teatro. Diante de todo o ocorrido, compartilho com vocês’. As postagens geraram comentários dos leitores em apoio à vítima.
O presidente de honra do Instituto Steve Biko e vereador pelo PSB, Silvio Humberto, também se manifestou nas redes sociais, e disse estar sentido total indignação com a violência sofrida por Leno Sacramento.
“Precisamos nos levantar contra isso. Não podemos aceitar que sejamos confundidos sempre com o que há de pior. Não podemos aceitar que continuemos sendo alvejados pelo preconceito desse Estado racista, que nos mata indistintamente. Dessa vez a vítima sobreviveu ao ataque. Mas esta não tem sido a máxima. Nossa total solidariedade ao nosso parceiro e amigo Leno”, disse.
Casos
O termo ‘racismo institucional’ virou notícia outras duas vezes nas últimas semanas. Na segunda-feira (11), um menino de 12 anos foi impedido por um segurança do Shopping da Bahia de comer na praça de alimentação. A confusão começou quando um cliente resolveu pagar o almoço do adolescente e foi abordado pelo funcionário.
Uma semana antes, a ação truculenta de policiais ganhou o noticiário nacional e internacional. Na ação, um usuário de drogas e uma mulher grávida foram agredidos com tapas e socos por policiais militares. A mulher foi puxada pelos cabelos. Nos dois casos, o funcionário e servidores envolvidos foram afastados.
Fonte: Correio*