Mãe Stella recebe amigos em seu aniversário de 93 anos

 

O grupo de seresta ensaiava os primeiros acordes. Os convidados começavam a se acomodar nas cadeiras espalhadas pela casa, em Nazaré, no Recôncavo Baiano. Aos poucos, aproximavam-se da homenageada da noite, pediam-lhe a bênção. Ela, Mãe Stella de Oxóssi, abençoava a todos, agradecia pela comemoração de seus 93 anos.

Ali, sentada em uma cadeira posta ao lado do bolo, acompanhou, serenamente, a chegada dos convidados. Por alguns segundos, parecia reclusa nos próprios pensamentos, baixava o olhar para, logo em seguida, ser despertada por um novo visitante. “Estou feliz, tenho meus amigos, pessoas de boa vontade que querem me ver bem”, falou a ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá ao CORREIO, presente à celebração.

Um dos amigos, Edu Casanova saiu de Salvador para cantar a vida de Mãe Stella. O músico escolhera os próprios poemas da ialorixá para a comemoração. “É um projeto que surgiu para musicar a obra dela. Uma homenagem à sua vida”, contou ele.

Sempre sentada, a sacerdotisa falava da sua alegria. A maioria de suas festas, desde os 15 anos, tinha acontecido no terreiro do Afonjá, no Cabula, de onde se afastou em novembro de 2017. A reportagem arrisca e pergunta a Mãe Stella se ela não sente saudade do terreiro, das celebrações de seu aniversário naquele lugar. “Toda família tem acertos e desacertos. De alguns momentos, tenho saudade. Mas, aqui, tenho a paz, vivo sem aborrecimentos, tranquila”, relatou ela, vestida de bege, unhas pintadas de rosa para a ocasião, sem vestimenta do candomblé.

Quase sempre ao lado de Mãe Stella, Graziela Domini justifica as escolhas. “Esse é o aniversário de Maria Stella. Ela participou de tudo. E provou e aprovou o cardápio também”, brincou, para, em seguida, continuar: “Ela vive um novo ciclo. Seus rituais são todos internos. Ela fala em iorubá, eu escrevo”.

Nenhum dos membros do Afonjá foi a Nazaré participar da celebração. As comemorações de ontem, no terreiro, a mais de 100 quilômetros de onde ocorria a festa, foram em homenagem a Xangô. Em Nazaré, no entanto, vizinhos, como a professora Maria das Graças, 61, já se encarregavam de felicitar Mãe Stella. “Ela precisa de paz, saúde. Porque, aí, terá forças para correr atrás e seguir a vida”, torceu.

A Mãe Stella, ou a Maria Stella de Azevedo daquela noite, bastava. A força de seu orixá, Oxóssi, é a sua guia. E as portas de sua casa e de sua alma estão abertas, faz questão de avisar. Nesse ponto, conclui: “O orixá resolve tudo. Quem vai atrás da paz encontra. O resto eu entrego a Oxóssi. Os 93 anos, até aqui, foram de muito aprendizado”.

 

 

Fonte: Correio*

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