Em sua 25ª edição, o Prêmio Braskem de Teatro celebra a arte livre
“A arte é livre!” É a partir desse mote que o 25º Prêmio Braskem de Teatro vai convocar artistas das mais diferentes gerações das artes cênicas baianas e a sociedade de modo geral a pensar sobre o lugar da arte no Brasil (e no mundo) de hoje. O evento, restrito a convidados, acontece logo mais, às 20h, no Teatro Castro Alves, e será transmitido pela TVE, no canal 10.1.
À frente da cerimônia pela sexta vez, o diretor artístico Luiz Marfuz lembra que o tema surgiu a partir da pergunta sobre o que era importante dizer. “Que temas são esses que estão nos rodeando, nos provocando? No ano passado, uma onda conservadora caiu em cima da produção dos artistas do país, em quase todas as áreas”, destaca, ao ressaltar a proibição de exposições como a Queermuseu e de espetáculos como La Bête e O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – este último chegou a ter sua apresentação suspensa também em Salvador, durante o Festival Internacional de Artes Cênicas (Fiac).
Para Marfuz, apesar de bem característicos dos nossos tempos, esses tensionamentos “estão ligados à prórpia história das artes, que em determinados momentos é atingida por um raio de intolerância oriundo de diversos grupos e instituições”.
O clima de manifesto e celebração vai dar o tom da premiação, que será costurada a partir da metáfora da tempestade. “Isso que estamos vivendo é uma tempestade, onde cada um enfrenta de uma forma. Uns se abatem, outros encaram, outros voam”, compara Marfuz, que se inspirou ainda na última peça escrita por Shakespeare.
Teatro, música, dança e audiovisual potencializam a reflexão sobre a natureza livre da criação artística. “Tem também o humor, que por natureza é demolidor, corrosivo. O humor ameça, irrita, e entra nesse conjunto como contraponto à abordagem mais severa sobre o tema”, ressalta Marfuz.
Celebração
Seis mestres de cerimônia vão lembrar a rica história de 2500 anos do teatro, junto a um corpo de 12 dançarinos. Para a missão, foram convocados Harildo Déda, Valdineia Soriano, Cyria Coentro, Hilton Cobra, Leandro Villa e Laila Garin. “É sempre difícil fazer essa composição. A ideia foi contemplar a diversidade estética e de gerações, além de artistas que residem em Salvador e artistas que decidiram morar fora da cidade. Todos, no entanto, baianos”, destaca.
A naturalidade é o que une também todos os homenageados: as atrizes Ivana Chastinet e Frieda Gutmann, mortas em agosto do ano passado e em janeiro deste ano; respectivamente; o ator Antonio Pitanga, que celebra 60 anos de carreira; e o cabeleireiro e maquiador Deo Carvalho.
Participando pela primeira vez da premiação, a atriz Laila Garin, radicada no Rio de Janeiro, se diz feliz em voltar a Salvador para a ocasião. Para ela, uma oportunidade de ver quem são os novos artistas que estão em cena, de saber um pouco do que está acontecendo. “Eu estou realmente afastada. Ano passado pensei em vir fazer um trabalho e passar um tempo, mas acabou não dando. Essa é uma falta que sinto, de conversar, de trocar experiências, de ver o que tem sido produzido aqui”, lamenta.
Concorrentes
No total, cerca de 20 espetáculos que estrearam em Salvador ano passado concorrem a pelo menos uma das oito categorias. De abril a dezembro, a comissão julgadora do prêmio avaliou 61 peças teatrais. Os vencedores das categorias Espetáculo Adulto e Espetáculo Infantojuvenil receberão um prêmio no valor bruto de R$ 30 mil cada, enquanto os demais vencedores serão contemplados com um prêmio no valor bruto de R$ 5 mil cada.
Além de dirigir artisticamente a premiação, Marfuz também está indicado à categoria de Melhor Texto pelo espetáculo Traga-me a Cabeça de Lima Barreto – que concorre ainda a outras três categorias. Para ele, que conseguiu ver muitos dos espetáculos indicados, é possível dizer que o teatro baiano “sempre encontra uma forma de resitência e de afirmação”. “Vejo uma espécie de rede de resistência cultural, de uma diversidade muito grande”, argumenta, sem esquecer das dificuldades, sobretudo financeiras.
Indicado também à categoria Melhor Texto por Os Pássaros de Copacabana e Melhor Direção por Os Pássaros e Um Vânia, Gil Vicenete Tavares afirma que qualquer premiação envolve um conjunto de fatores, mas em sua história o Prêmio Braskem tem alimentado o debate e incentivado a criação local. “É uma pena que ele seja o único, falta termos outras visões sobre nosso fazer, na cidade”, diz.
Apesar das diferenças evidentes entre as duas produções que ele dirigiu ano passado, Gil Vicente diz que uma semelhança pode ser destacada: nas duas, o ator é o centro. “Esse é o teatro que busco realizar e minhas indicações a prêmios só existem porque existem atrizes e atores que foram generosos em dividir sua importância – primordial e essencial – comigo”, avalia, ao repelir a ideia de que há algo que una de modo homogêneo a cena teatral baiana.
Para o ator Fernando Santana, indicado às categorias de Melhor Ator e Melhor Texto por Mesmo Sem Te Tocar, é fundamental a inciativa do Braskem de reconhecimento aos artistas locais. “É mais um reforço na arte que vem sendo degradada com a falta de incentivo”, avalia.
“É com muita honra que celebramos as bodas de prata do Prêmio Braskem de Teatro. A premiação – uma das mais longevas do país -, ao longo desses 25 anos, não só reconheceu o trabalho dos artistas e técnicos baianos, como valorizou e incentivou a produção teatral em nosso estado”, ressalta Milton Pradines, gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia e Alagoas.
Liberdade, liberdade
Mas afinal, a arte é livre por quê?!”A arte é livre porque ela promove a liberdade e uma de suas funções é fazer com que as pessoas acreditem nos seus sonhos, não desistam deles. A arte é livre porque nosso sonho é livre”, diz Fernando. “A arte é livre porque precisamos nos libertar das prisões da vida (cafona, mas verdadeiro)”, aposta Gil.
Já Laila Garin acredita que “a arte é livre porque nós não somos só mulheres, só negros, só mães, só filhos. Nós somos imensos, somos pedaços da estrela que explodiu lá no Big Bang. A arte é livre porque a alma do ser humano não tem limite”. “No dia que qualquer instância tutelar a arte e dizer o que pode e o que não pode, aí deixa de ser arte. O sentido de fazer arte é o exercício da liberdade”, defende Marfuz.
CONFIRA OS INDICADOS AO 25º PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO:
ESPETÁCULO ADULTO
De Um Tudo
Mesmo Sem Te Tocar
Traga-me a Cabeça de Lima Barreto
Um Vânia
Uma Mulher Impossível
ESPETÁCULO INFANTOJUVENIL
Bonito
Com o Rei na Barriga
Passaredo Passarinholas
Sobre o Menino Que Queria Voar
Virgulino Menino, Futuro Lampião
DIREÇÃO
Alda Valéria, pelo espetáculo Espanca: Um Drama em Flor
Djalma Thürler, pelo espetáculo Uma Mulher Impossível
Fernando Guerreiro, pelo espetáculo De Um Tudo
Gil Vicente Tavares, pelos espetáculos Os Pássaros de Copacabana e Um Vânia
Queila Queiroz pelo espetáculo E Contar Tristes Histórias das Mortes das Bonecas
ATOR
Fernando Santana pelo espetáculo Mesmo Sem Te Tocar
Hilton Cobra pelo espetáculo Traga-me a Cabeça de Lima Barreto
Leonardo Teles pelo espetáculo E Contar Tristes Histórias das Mortes das Bonecas
Marcelo Flores pelo espetáculo Um Vânia
Marcelo Praddo pelos espetáculos: Os Pássaros de Copacabana e Um Vânia
ATRIZ
Isadora Werneck pelos espetáculos Um Vânia e Eudemonia
Júlia Anastácia pelo espetáculo Sublime é a Noite
Mariana Moreno pelo espetáculo Uma Mulher Impossível
Paula Lice pelo espetáculo A Persistência de Todas as Coisas
Uerla Cardoso pelo espetáculo Espanca: Um Drama em Flor
TEXTO
Alan Miranda e Daniel Arcades por De um tudo
Djalma Thürler por Uma Mulher Impossível
Fernando Santana por Mesmo Sem Te Tocar
Gil Vicente Tavares por Os Pássaros de Copacabana
Luiz Marfuz por Traga-me a Cabeça de Lima Barreto
REVELAÇÃO
Agamenon de Abreu pela Direção do espetáculo Mesmo Sem Te Tocar
Ana Mametto como Atriz pelo espetáculo De Um tudo
Bira Freitas pela Cenografia do espetáculo Espanca: Um Drama em Flor
Leonardo Teles por Cabelos e Maquiagem do espetáculo Com o Rei na Barriga
Letícia Bianchi pela Direção do espetáculo Eudemonia
CATEGORIA ESPECIAL
Agamenon de Abreu pelo Figurino dos espetáculos Encruzilhada, Sublime é a Noite e Eca! Quanta Sujeira!
Barbara Barbará pela Direção de Movimento do espetáculo Os Pássaros de Copacabana
Elinas Nascimento pela Direção Musical do espetáculo Woyzeck – Zé Ninguém
Gerônimo Santana pela Composição Musical do espetáculo De Um Tudo
Luiz Guimarães pela Iluminação do espetáculo Sobretudo Amor
Fonte: Correio*