Brasil ainda tem 21 milhões de lares sem internet

O Brasil ainda tinha 21,2 milhões de domicílios sem acesso à internet em 2016, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE. De acordo com o levantamento, o percentual de lares conectados foi estimado em 69,3% naquele ano. Ou seja, mais de 30% das residências não tinham o serviço. Os dados levam em consideração o uso da internet por computador, celular ou tablet.
Embora ainda longe da universalização, houve avanço em relação aos anos anteriores. Em 2015, uma versão diferente da Pnad mostrou que só 57,8% das casas brasileiras tinham internet. Os dois relatórios não são estatisticamente comparáveis, porque foram feitos com metodologias diferentes, mas, segundo técnicos do IBGE, é possível indicar uma tendência de melhora no acesso ao serviço no país.
— Talvez tenha sido o maior salto verificado no período de um ano, em termo de domicílios (com internet). O Brasil chegou a um patamar de comparabilidade com as economias do Leste Europeu. Especificamente entre os jovens de 18 a 24 anos, a pesquisa revela uma comparabilidade com países desenvolvidos. É uma pesquisa muito satisfatória, mostra que, a despeito da crise econômica de 2016, o segmento não foi afetado, aparentemente — avalia Artur Coimbra, diretor do departamento de Banda Larga do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
A maior quantidade de famílias desconectadas foi estimada no Nordeste, onde não havia acesso à rede em quase 8 milhões de casas. Na região, o percentual de domicílios com internet era de apenas 56,6%, mais de dez pontos percentuais abaixo da média nacional.
O comerciante Julimar Fernandes, de 65 anos, não tem em sua casa, no bairro São Joaquim, zona Norte de Teresina, serviços de acesso à internet, nem mesmo no smartphone. Julimar reconhece que ouve piadas dos fornecedores locais, da filha e da neta que moram em São Paulo. Dizem que o bairro onde mora é atrasado e reclamam que a comunicação com ele fica prejudicada por essa razão. Ele responde:
– Realmente meu bairro é atrasado. Teresina cresce igual rabo de jumento, para baixo.
Segundo o comerciante, que tem um celular que não conecta internet, chamado de “lanterninha” na região, ele não tem o serviço em casa porque no Piauí o serviço de conexão é muito caro, variando de R$ 70 a 120 por mês, valor que acha alto porque já paga uma média de R$ 300 mensais para ter água e luz em casa. Ele gostaria que o acesso ao serviço fosse gratuito.
– Não é que eu seja contra a internet, contra computadores, mas porque para a gente ter esse serviço, eu tenho que pagar, quando eu deveria receber de graça.A gente deveria ter internet livre e de graça nas praças da cidade – argumentou.
O maior índice de inclusão digital foi registrado no Sudeste: 76,7% dos lares tinham o serviço.
O IBGE também apurou as causas para a falta de acesso nas famílias desconectadas. Na média nacional, o principal motivo apontado foi a falta de interesse, indicado por 34,8% das residências em todo o país. Em segundo lugar, ficou o alto custo do serviço, citado por 29,6%. No Nordeste, onde o problema é mais grave, essa ordem se inverte: na região, o maior culpado pela falta de acesso à rede é o preço do serviço, apontado em 34,8% das famílias.
BANDA LARGA MÓVEL JÁ ULTRAPASSA INTERNET FIXA
Entre quem usa internet, a preferência é pelo uso do celular, mesmo em casa. O acesso é pelo telefone em 97,2% dos lares, enquanto só 57,8% usam o computador. Essa tendência já era observada na edição anterior da Pnad, mas em menor intensidade. Em 2015, 92,1% das famílias usava o celular para se conectar, enquanto 70,1% utilizavam o computador.
A importância do celular é ainda mais evidente nas regiões Norte e Nordeste. No Norte, o percentual de acesso pelo aparelho móvel chega a 98,8%, contra apenas 34,4% por computador. Já no Nordeste, 97,8% usam o smartphone, enquanto 45,9% acessam pelo computador.
— Esse acesso via telefone celular é especialmente importante para essas regiões Norte e Nordeste. Quando a gente junta com a questão do custo do serviço, a gente entende bem esses números — Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad Contínua.
O recorte do tipo de conexão reforça esse quadro. O uso de banda larga móvel já ultrapassa a internet fixa no país. Em 2016, 77,3% da conexão era feita por internet móvel, contra 71,4% por banda larga fixa. Na Região Norte, mais da metade (50,9%) se conecta utilizando exclusivamente o 3G e 4G. Em edições anteriores da pequisa, a banda larga fixa ainda era preferência. Enquanto isso, a internet discada está praticamente extinta, presente em apenas 0,6% dos domicílios, ou 276 mil casas em todo o país.
Fonte: O Globo*